O ex-Presidente da República Cavaco Silva participou, esta terça-feira, na quarta sessão das ‘Conferências de Fafe’, com uma reflexão sobre os 48 anos de democracia no país, em que pôs o foco na economia como o ponto mais baixo destes anos, considerando que falta concretizar o ‘D’ de ‘desenvolvimento’ preconizado no 25 de Abril.
A abertura da sessão esteve a cargo do presidente da Câmara de Fafe, Antero Barbosa, que sublinhou o percurso de Cavaco Silva como professor universitário e decisor político, marcando um “período de grande desenvolvimento e concretização de reformas”. “Garante-lhe um lugar de destaque na nossa história contemporânea. Será consensual dizer que é uma das personalidades marcantes deste pós-25 de Abril”, assinalou.
Também Luís Marques Mendes deixou elogios ao ex-presidente da República, considerando-o um “exemplo de coragem política”, que sobressaiu pela “autoridade do conhecimento e da preparação e não do autoritarismo”.
“Se Ramalho Eanes foi o presidente da normalização da nossa Revolução de 25 de Abril, se Mário Soares foi o grande combatente pela liberdade antes e depois do 25 de Abril, se Jorge Sampaio foi o presidente da cidadania, Cavaco Silva foi a meu ver o líder que conduziu o país ao maior período de desenvolvimento económico e social da nossa democracia, com algumas marcas incontornáveis”, anotou o Conselheiro de Estado.
Na sua intervenção nas Conferências de Fafe, que têm como mote os 48 anos de democracia, Cavaco Silva focou a sua análise na economia, considerando que nestes anos houve mais momentos baixos do que altos, sendo necessário “valorizar o que correu bem e tirar as devidas lições daquilo que correu mal”.
Depois de lembrar os avanços que a revolução de Abril permitiu, apontou o “crescimento medíocre da economia portuguesa nos 48 anos de democracia, em boa parte fruto de erros de política económica”, como o problema na base da falta de concretização do ‘D’ de ‘desenvolvimento’.
“O grande desafio que hoje a nossa democracia tem à sua frente é de colocar a economia portuguesa numa trajetória de crescimento anual sustentável de cerca de 4%. Sem isso não é possível melhorar a qualidade dos serviços prestados”, anotou.
Para o antigo Presidente da República, a perceção de que falta concretizar o ‘D’ de ‘desenvolvimento’ reside nos baixos salários, nas pensões de reforma que não permitem uma vida digna a milhares de portugueses, e ainda na constatação de que “apesar da brutal carga fiscal e elevada despesa pública, a qualidade dos serviços públicos não é boa, é o que acontece em particular nas áreas da saúde, da educação, da justiça e segurança”.
“Qual é a lógica que o centro do debate do orçamento seja as contas certas deixando para posição muito secundária os objetivos diretamente relacionados com o bem estar económico e social dos portugueses?“, questionou.
“Para que o país vença o desafio do crescimento económico, para além da coragem política para a concretização de um choque reformista, é também importante que o poder político cuide da sua credibilidade”, alertou.
Cavaco Silva disse recear que, se o poder político falhar neste domínio, “como povo nos falte o ânimo para recuperar”. Ainda assim, disse confiar que “não será esse o caso”, pois “Portugal tem gente boa e trabalhadora”.
Lembrando o aumento da abstenção e o desinteresse dos jovens pela atividade política, defendeu ainda ser “chegada a hora de proceder à revisão da lei eleitoral”, que garanta um equilíbrio entre representatividade e governabilidade, para que “Portugal não continue a ser uma democracia em que o D de desenvolvimento está permanentemente adiado”.
