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Testemunho de Katy Matos: Vencer a batalha contra o cancro da mama

Sentiu o seu mundo a abalar quando recebeu o diagnóstico de cancro da mama, mas nem um segundo pensou em deixar de ir à luta. Na vida, como dentro do ringue, não fosse ela treinadora de kickboxing, Katy Matos é um exemplo de força e coragem. Um testemunho de luta contra o cancro partilhado com o Expresso de Fafe, a propósito do ‘Outubro Rosa’, dedicado à consciencialização para a prevenção. 

Expresso de Fafe (EF): Tem dado a cara por esta causa da luta contra o cancro. Como foi o seu diagnóstico? 

Katy Matos (KM): A minha mãe teve cancro há nove anos. Tinha 37 anos quando pedi a primeira mamografia ao meu médico de família e logo aí detetaram umas micro-calcificações. A biópsia na altura deu que não havia nada preocupante, era só vigiar e foi isso que fizemos durante três anos seguidos. No ano passado voltei a fazer e dava tudo bem, mas resolvi procurar um médico especialista, que para não ficar na dúvida mandou-me fazer uma ressonância. Daí houve nova biópsia e descobri que tinha cancro de mama. Costumo dizer às pessoas que façam a prevenção e não deixem o seu sexto sentido para trás. Tudo indicava que estava tudo bem, mas eu achava que não e confirmou-se.

EF: Como foi receber a notícia?

KM: Costumo dizer que o meu médico foi o meu ‘anjinho da guarda’. Ele achava precipitado como é que eu com um resultado de uma biópsia teimava em fazer novo exame, mas apenas com quinze dias de distância foi detetado o cancro. Lembro-me que chorava e ria ao mesmo tempo, de nervoso. Chorava porque não sabia o que ia acontecer e tinha a minha mãe internada no IPO, que tinha sido operada nessa altura a um segundo cancro de mama. Foi uma mistura de: ‘Isto vai ter de correr bem’. Sempre positiva, nunca desistir. Há dias maus, mas temos de dar sempre a volta. A minha história é muito complicada, porque sou operada a 5 de janeiro deste ano e o meu pai é internado com um problema de saúde a dia 12 e ficou um mês e meio no hospital. Eu ia todos os dias para o hospital e não dizia a ninguém o que tinha, só queria estar ali com ele. Só me lembrava quando chegava a casa e tinha de pôr o creme na ferida. 

EF: Como é entrar pela primeira vez na sala de tratamentos?

KM: Um medo tremendo, não vou negar. Achava que não devia estar ali. Sabia que tinha cancro, mas ao mesmo tempo achava que não podia ser. Sempre fiz desporto, não me doía nada, treinava, trabalhava, o corpo nunca deu sinal de nada. Estive sempre na esperança de que a operação fosse suficiente. Tirei o nódulo, fiz reconstrução na mesma operação e ficou perfeito, só com uma cicatriz. Quando falam em quimioterapia tive o choque. Estava em negação, a tentar proteger os meus dado o que estavam a passar, mas aí tive de enfrentar. Senti que era real. Até aí pensava nos outros e escondia o meu problema. Só respirei fundo e pensei: ‘Não posso mentir mais’. Eu nunca dizia ‘eu vou à quimioterapia’, eu dizia ‘eu vou fazer tratamento’. Tenta-se contornar as palavras.

EF: Como é que o corpo reagiu?

KM: A primeira sessão foi má. Só pensava que tinha de ser forte, porque a minha mãe estava a passar pelo mesmo. Lembro-me que só chorei uma vez na quimioterapia, na quarta sessão, porque a minha mãe estava a fazer ao mesmo tempo. As lágrimas caíam. Das outras vezes tentava ser a alegria da sala, porque estes sítios são de muito silêncio. As pessoas deviam falar umas com as outras, ajudarem-se, e não terem medo dos olhares. Foram seis sessões de quimoterapia, de 21 em 21 dias, e depois uma de radioterapia em Braga. Fui muito bem tratada no Hospital de Guimarães, por isso é que faço estas ações solidárias, para retribuir o que fizeram por mim. Quando entramos ali tudo assusta.  

EF: Os olhares magoam?

KM: É o que dói mais. Digo que sou sempre muito forte, mas a primeira vez que saí sem o meu cabelo foi um grande impacto. Só usava peruca na rua para as pessoas não verem. Andei dois meses com peruca para me proteger dos olhares. A primeira vez que tirei lembro-me que passei por um casal que disse: ‘Coitadinha, tão nova!’. Mexeu comigo. Ao outro dia tirei a peruca e pus um chapéu. As pessoas abraçavam-me e choravam, só por me verem sem cabelo. Todas as mulheres são bonitas. Temos de encarar esta fase a pensar em ficar boa, porque só isso interessa. 

Muda a forma como olhamos para a vida. Aprendemos a valorizar as pequenas coisas.

Foto: DR.

EF: De onde vem essa força?

KM: A primeira vez que se ouve ‘tens cancro’ pensa-se que se vai morrer. A única coisa que disse ao médico foi que queria estar aqui daqui a sete anos para ver a minha filha formar-se. A família é muito importante neste processo e sou a prova disso. Há pessoas que não acreditam nos animais. Tinha uma cadela que tinha sido diagnosticada com cancro e a médica dizia que não chegava a agosto. Aguentou até eu acabar a última sessão de quimioterapia. Foi ela a única que viu mesmo o que eu passei. Ficou comigo até ao fim. Nunca quis que ninguém sofresse comigo. Nunca ninguém me ouviu dizer que estava doente, dizia sempre que estava bem. 

EF: É importante essa atitude para combater a doença?

KM: Muito importante. Por muito que estejamos em baixo, é acordar, vestir e sair de casa. Muitas vezes as pessoas fecham-se porque têm medo dos olhares. Sou treinadora de kickboxing e costumo dizer aos meus atletas que desistir não está no nosso vocabulário. Quando vamos para o ringue sabemos que não podemos desistir. Se cairmos temos de nos pôr a pé. Agora essa mensagem era para mim. Era eu que tinha de mostrar que não podia desistir. 

EF: A batalha está ganha?

KM: Temos de esperar meio ano para voltar aos exames. Em princípio está tudo bem, mas há sempre o receio. Queria deixar este apelo: façam prevenção, não tenham medo dos exames. Não encarem como fatalidade. Cancro não é sinal que vamos morrer, é sinal que temos uma doença e nos vamos tratar. Eu tenho a doença, mas a doença não me tem a mim, é isso que as pessoas têm de pensar. 

EF: O cancro muda a forma como se olha para a vida?

KM: Aprendemos a valorizar as pequenas coisas. Lembro-me de sair do tratamento, subir a avenida e pensar que nunca tinha visto aquelas flores na varanda, nunca tinha sentido o vento na cara. A partir do momento que se tem medo, a vida começa a ser vista de outra forma. Queremos ter mais tempo com os nossos, dizer ‘amo-te’ mais vezes. Vivemos em piloto automático, mas os afetos curam-nos. No final do tratamento ofereci umas luvas a alguém muito importante que diziam: “um murro pode matar, mas um abraço pode curar”. Tenham esperança. Há dias maus, não vamos pintar isto de cor de rosa. Mas enquanto há esperança há cura. Força, coragem e fé!

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